Os propósitos para o Novo Ano são uma tradição ocidental muito conhecida. A ideia consiste em mudar uma característica, ou um comportamento, de modo a atingir um objectivo pessoal que transforme a nossa vida. Mas qual tem sido a tua experiência?

Photo by Marten Bjork at unsplash.com

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Quantos de nós não iniciamos um Ano Novo cheios de projectos e vontade de os concretizar, mas ao chegar ao fim do ano ficamos desapontados com aquilo que não realizámos. A desmotivação pode ser tal que corremos o risco de deixar de sonhar e pensar como pode o Ano Novo ser melhor do que o anterior.

No final do ano 2017, era assim que pensava e gostaria de mudar. Comecei por aprofundar a metodologia que Michael Hyatt ensina no seu livro Your Best Year Ever: a 5-step plan to achieve your most important goals.” O certo é que, em grande parte, resultou ao rever o que tinha sonhado no início de 2018 e o que atingi no fim. Por exemplo, escrevi que no final de 2018 deveria atingir os 80kg (estava com 91kg a 1 de janeiro). Neste momento tenho 75kg. Ou seja, não só atingi o meu objectivo como o superei.

Um dos passos mais importantes para atingir os propósitos que fazemos para o Ano Novo é escrevê-los. Num estudo feito pela Dra. Gail Matthews da Universidade Dominicana da Califórnia concluiu-se que as pessoas que escrevem os seus propósitos, em média, têm mais 40% de probabilidade de os concretizar do que as pessoas que não os escrevem.

Nesse sentido, o grande desafio está em o que escrever. Pois não basta escrever que gostaria de melhorar a saúde, ou a minha situação financeira. Há propósitos que são vagos e alguns irrealistas.

O modo como escrevemos os propósitos faz parte da sua concretização. Nesse sentido, partilho quatro simples passos.

1. Clarificar

Um dos maiores desafios à realização dos nossos propósitos anuais é a necessidade de ter uma ideia clara sobre o que pretendemos atingir no Ano Novo. Clarificar o que queremos atingir no ano seguinte implica ligar a experiência do passado com o que visionamos no futuro. Não é fácil porque exige sermos honestos connosco próprios sobre o que não resultou. Algo que nos leva a pensar nas nossas falhas.

Não é fácil lidar com as nossas falhas, mas o primeiro passo de clarificar significa estudá-las. Os falhanços não nos definem, ensinam-nos. É o que normalmente queremos dizer com aprender como os nossos erros.

Esse processo de aprendizagem, através do exercício de clarificação, passa muito por sabermos o “porquê” que nos move (na família, carreira, estilo de vida) e qual é a nossa identidade.

Em cada propósito perguntemo-nos:

  • por que razão?
  • o que sou para o querer realizar?

Um exemplo. Eu sou escritor (identidade). Por isso, em 2019, quis criar um hábito de escrita (processo) para escrever um livro de não-ficção de 50000 palavras. Através desse livro sobre a aprendizagem queria inspirar outros a redescobrir o gosto por aprender ao longo da vida (porquê). Escrevi o livro? Ainda não (repararam na primeira palavra?), mas criei o hábito e isso foi fundamental para outras coisas. Os propósitos podem evoluir e ter vida própria.

Clarificar significa ter bem presente o que me identifica, os processos (hábitos) e a razão que subjaz ao propósito.

2. Enquadrar

Qualquer propósito enquadra-se numa, ou em várias, das dimensões da nossa vida. Quando num artigo anterior me referia às dimensões de criar um hábito, sintetizava-as em sete, como as cores do arco-íris.

  • Vermelho: o que é essencial
  • Amarelo: o que nos faz criativos
  • Laranja: os relacionamentos
  • Verde: a saúde e o meio ambiente
  • Azul: a harmonia em nós e com os outros através do tempo e da atenção
  • Anil: o conhecimento
  • Violeta: a conectividade

Em qual (ou em quais) das dimensões da nossa vida se enquadra o nosso propósito? É muito importante dar este segundo passo, ou seja, enquadrar cada propósito nas dimensões da vida humana, apontando sempre para o seu equilíbrio.

3. Explicitar

O terceiro passo consiste em definir o propósito em si mesmo. Para isso, a metodologia SMARTER desenvolvida por Michael Hyatt é a que tenho mais experiência. O propósito deve ser:

  • eSpecífico (Specific)
  • Mensurável (Measurable)
  • Activo (Actionable)
  • aRriscado (Risky)
  • Temporal (Time keyed)
  • Excitante (Exciting)
  • Relevante (Relevant)

Não chega dizer – “quero emagrecer.” Aplicando a metodologia SMARTER diríamos – “quero emagrecer 10kg até ao final do ano criando um hábito de exercício diário como caminhar 30 minutos por dia.” Um propósito ligado, principalmente, à dimensão verde, mas que afecta outras.

4. Planear

Mas será o último passo que contém os ingredientes para realizar o nosso propósito. A razão de definirmos propósitos está em querer melhorar algo na nossa vida.

A minha experiência foi a de que a melhor forma de realizar os nossos propósitos consiste em criar os hábitos adequados. Não há propósitos sem hábitos. Por isso, no exemplo que dei de escrever um livro, o processo para chegar ao propósito é através do hábito de escrita diária.

Depois, temos por vezes a ideia de que os hábitos implicam um grande investimento em tempo e vontade, mas não. Os hábitos criam-se com passos atómicos, ou seja, tão pequenos que se tornem irrecusáveis.

Só escolhendo os hábitos adequados aumentamos a probabilidade de concretizar os nossos objectivos.

No exemplo da escrita, existem diversos hábitos possíveis como as páginas matinais, ou escrever um post por dia num blogue, ou definir um número mínimo de palavras a escrever por dia. Depois, não chega definir o modo, importa também definir o momento do dia para realizar o hábito e perceber qual a motivação inicial que torne fácil a sua realização.


Convido-te a dedicar um dia ou uma tarde a pensar bem nos propósitos que podem fazer do Ano Novo, o melhor ano desde há muito, e escreve-os. Em breve irei partilhar uma iniciativa experimental que penso poder ajudar-te a concretizar clarificar, enquadrar, explicitar e planear os teus propósitos. Fica atento.

Para já, se quiseres começar a treinar a criação de um hábito, experimenta a folha de hábito que criei para o efeito.