Richard Feynman é uma das mentes mais brilhantes do nosso tempo. As suas aulas eram de tal modo intuitivas que deslumbram ainda hoje. A sua abordagem ao conhecimento era original e focada na curiosidade. Marvin Minsky, cientista cognitivo do MIT dizia que “quando Feynman enfrentava um problema, ele era invulgarmente bom em voltar a ser como uma criança, ignorando tudo o que os outros pensavam … Ele era de tal modo desapegado [que] se algo não funcionava, abordava de outro modo.” Qual a técnica por detrás da maneira como Feynman aprendia rápido e bem?

O objectivo da sua técnica é o de desenvolver a intuição sobre as ideias que pretendemos aprender. Ou seja, é uma técnica que serve para quando não compreendemos algo de todo, ou compreendemos um pouco, mas aspiramos por conhecer melhor e com maior profundidade. O método é simples.

Método de aprendizagem de Feynman

O método tem quatro passos essenciais a que designo por VIDA.

VISUALIZAR: Visualiza o conceito ou problema que queres compreender e identifica-o no topo de uma folha de papel.

IMAGINAR: Imagina que tens uma criança diante de ti e tens de explicar a ideia que queres compreender. Se for um conceito, como o explicarias a alguém que nunca ouviu falar sobre ele? Se for um problema, como resolveste e qual o ponto crucial que explica as razões dessa solução fazer sentido para ti?

TERMOS – as crianças não entendem palavras complicadas, ou jargões científicos. Os termos precisam de ser simples e imaginativos.

BREVIDADE – as crianças não conseguem manter a atenção por muito tempo como seria o caso de um adulto (bem, hoje já não é bem assim…). Por isso, a brevidade de uma explicação exige criatividade, imaginação.

DESBLOQUEAR: Por vezes ficamos bloqueados numa explicação, e o que pensavas compreender, afinal, falha e não consegues dar uma explicação simples e clara. O que fazer: voltar aos livros, anotações, professor, ou material de referência para encontrar o “algo mais” que está a faltar.

AULA-IMAGINÁRIA”: Dá uma aula-imaginária daquilo que queres compreender em voz alta. Depressa sentirás se a linguagem que estás a usar deixa de ser simples, ou surgem impasses que representam conhecimento incompleto. A palavra-chave que resume este último passo é: simplicidade.

Se não articularmos aquilo que queremos aprender com a vida, corremos o risco de pensar que compreendemos algo, quando, na prática, não compreendemos. O método de Feynman estimula-nos a ir ao detalhe, isto é, às coisas pequenas que podem fazer uma grande diferença.

Por exemplo, quaisquer falhas na compreensão de alguma coisa notam-se quando alguém dá uma explicação muito complexa, e com muitas palavras. Muito provavelmente, e sem querer, está a mascarar o que não compreende bem e todos caímos nessa tentação. Feynman dá um exemplo disso ao ler um texto filosófico que procurava compreender:

” Eu tinha este sentimento desconfortável de “não sou adequado,” até que disse, finalmente, para mim próprio – “vou parar, e ler uma frase bem devagar para perceber que raio significa.” – Então, parei e li a próxima frase com muita atenção. Não me lembro dela com precisão, mas seria próxima disto: “O indivíduo membro de uma comunidade social recebe, frequentemente, a informação por via de canais visuais e simbólicos.” Li e reli a frase, e traduzi. Sabem o que significa? – “As pessoas lêem.”

De facto, a técnica de Feynman, apesar de nos levar ao detalhe, surpreendentemente, acaba na expressão mais simples possível que leva o outro a compreender seja o que for, de forma clara e concisa.

Começa com um caderno

O desafio de qualquer técnica de aprendizagem sente-se quando tentamos praticá-la. Por onde começar?

Dizemos muitas vezes que estamos sempre a aprender. É verdade, mas há muito potencial a explorar se mudarmos um pouco a frase e afirmarmos que estamos a aprender para sempre. Essa é a atitude mental progressiva de Carol Dweck que nos coloca numa posição de permanente evolução.

Um passo essencial da técnica de Feynamn consiste em escrever tudo o que aprendia por simplicidade da explicação num caderno. Também tu podes começar por um caderno simples dedicado ao que aprendes.

Iniciativas como o ProjectoThomas A. Edison Papers” continua a estudar os cadernos onde ele escrevia as suas ideias e o que aprendia. Ninguém sabe se é ou não um “Thomas Edison” até sê-lo. Não é o desejo que nos leva a esse patamar, mas o espírito de iniciativa que vem de dentro.

”Se não consegues explicar de forma simples, então, não compreendes o suficiente daquilo que queres explicar.” (frase atribuída a Einstein)

Ousa sonhar. Arranja um caderno, abre e começa. Pois, as consequências de saber aprender vão para além da compreensão de conceitos e resolução de problemas. Quem aprender com a VIDA, aprender a viver.