A velocidade é a razão entre duas coisas, a distância percorrida e o tempo que demoramos a percorrer. No nosso percurso académico ou profissional, se temos noção da distância a percorrer até atingirmos o sucesso, chegar ao destino em pouco tempo implica uma coisa: fazer tudo a um passo veloz. Mas não ficamos por aqui.

Em vez de manter a velocidade para termos uma noção do tempo, já que temos uma noção da distância, não, aceleramos. Ou seja, sem nos darmos conta, aumentamos a velocidade daquilo que fazemos, e se essa ganha inércia, travar será muito difícil e o desfecho pode ser a exaustão. Acontece que o nosso desempenho depende do grau de exaustão e, em vez de nos aproximarmos do destino, fisica e intelectualmente, vamo-nos cansando e corremos o risco de não chegar ao sucesso.

”Há mais coisas na vida do que aumentar a sua velocidade.” (Mahatma Gandhi)

 

Desacelerar

Em 1982, o médico americano Larry Dossey introduziu a expressão ”time-sickness”, ou seja, doença-do-tempo, como a crença obsessiva de que ”o tempo escapa-nos, de que não é suficiente, e de que temos de pedalar rápido, cada vez mais rápido para nos manter-nos a par de tudo.” Porém, se todos começam a optar por fazer as coisas rápido, isso deixa de ser uma vantagem, forçando-nos a acelerar. E se entramos em número cada vez maior nesta guerra pela rapidez, acabamos na ”Mutually Assured Destruction” (Destruição Mutuamente Assegurada) ou MAD, leia-se, acabamos na loucura. Mas nem sempre foi assim.

Pouco a pouco fomos perdendo a arte de nada fazer, onde cortamos com os ruídos de fundo da nossa vida e as distracções. Desacelerar é dar tempo para nos encontrarmos com os nossos pensamentos, algo cada vez mais difícil.

Recentemente li um livro do jornalista Carl Honoré, “Em louvor da Lentidão” (”In praise of Slowness”), onde encontrei diversos elementos que nos podem ajudar a encontrar o tempo necessário para desacelerar a nossa vida pessoal e profissional, sem comprometer os nossos sonhos. A variação da velocidade com que realizamos as coisas faz, hoje, parte do nosso estilo de vida. Rápido e Lento possuem conotações bem precisas.

Rápida é considerada a pessoa ocupada, controladora, agressiva, apressada, analítica, stressada, superficial, impaciente, activa, quantidade-acima-da-qualidade.

Lenta é a pessoa oposta. Calma, cuidada, receptiva, parada, intuitiva, serena, paciente, reflexiva, qualidade-acima-da-quantidade. Ou seja, é uma pessoa que prima pelas conexões reais e significativas com outras pessoas, a cultura, o trabalho, a comida, tudo na sua vida.

Poderíamos pensar que uma pessoa vagarosa é melhor do que uma pessoa rápida, mas não é essa a filosofia do Movimento LENTO. O mais correcto resume-se a uma simples palavra: equilíbrio. É aquilo que os músicos designam em italiano por tempo giusto, ou seja, o tempo ou ritmo certo.

 

Encontrar o ritmo certo

Carlo Petrini, fundador do movimento italiano conhecido como Slow Food, afirma – ”ser Lento significa que controlas os ritmos da tua vida.” Por isso, o ideal é quando equilibramos o rápido com o lento no modo como vivemos e fazemos as coisas.

Quando esse equilíbrio não existe, vivemos escravos dos nossos horários que nos dão prazos e esses, por sua vez, dão-nos uma razão para viver apressados. Na prática, este é o preço que pagamos, não por ter inventado o tempo, mas o relógio.

Antes de inventarmos o relógio, a Humanidade vivia um tempo natural. As pessoas faziam as coisas quando sentiam ser o momento de as fazer, não quando o relógio dizia ser agora a hora de as fazer. Não temos grandes dúvidas sobre os desenvolvimentos positivos por detrás da invenção do relógio e de acertarmos o passo temporal com outros povos e nações, mas o problema foi o menosprezo do valor de equilibrar o tempo natural com os ponteiros do relógio.

O maior desafio para este Movimento LENTO será resolver a relação neurótica que temos com o próprio tempo e, como diz a antiga líder israelita Golda Meir, ”governar o relógio e não ser governados por ele.” E se não fizermos alguma coisa por isso, não será somente os recursos do planeta que esgotaremos, mas também nós próprios.

No dinamismo com que nos movemos nesta era da informação, o segredo está no equilíbrio em tudo o que fazemos, ou seja, em vez de fazer tudo à pressa, procurarmos a velocidade certa para cada coisa. Por vezes vamos mais rápido, outras vezes, mais devagar. E muitas das vezes numa velocidade intermédia.

Mais do que estarmos na era da informação, entrámos na era da conectividade, daí que o benefício de encontrar o ritmo certo para viver o tempo disponível permita dar espaço à construção de conexões com sentido e significado entre nós e os outros, a cultura e a natureza.

 

Como aderir ao Movimento LENTO

Um bom modo de avaliar que tipo de experiência transformativa nos proporciona este Movimento LENTO seria dar um primeiro passo: rever o nosso relacionamento com o tempo.

Em vez de vermos o tempo como um recurso, sistematicamente, em falta, deveríamos mudar a nossa perspectiva para o encararmos como o elemento no qual nos movemos na história e em tudo o que fazemos. Não surfamos a onda, mas fazemos parte da onda. Porém, isso implica abrandar.

O melhor modo de abrandar será começar pelas pequenas coisas. Encontrar momentos de pausa, de paragem e saborear o tempo. Deixar que a mente vagueie criativamente sobre algum assunto que nos interessa, ou pensar naquele problema que temos por resolver, ou – melhor ainda – não pensar e nada fazer, apenas respirar bem fundo.


E se experimentasses desacelerar com um minuto de pausa por dia para respirar profundamente?