A ideia que temos das formigas trabalhadoras faz-me pensar como muitos de nós podemos ter dificuldade em tempos como os actuais em reconhecer que nada mais podemos fazer do que parar. É o fruto do vírus COVID-19, que tem 50 a 200 nanómetros, isto é, o vírus de maior tamanho é 85 vezes mais pequeno do que o cabelo mais fino. O certo é ter obrigado a humanidade a parar e alterar os seus ritmos frenéticos. Isso fez-me lembrar que também as formigas param.

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De 1848 a 1859, o naturalista Walter Henry Bates esteve na Amazónia e observou, curiosamente, como as formigas Eciton Drepanophora passavam tempo a divertir-se. Parecia que tinham sido sujeitas a um ataque repentino de preguiça. Algumas caminhavam lentamente ao acaso, outras escovavam as antenas, e o que Bates achou mais estranho foi como se limpavam umas às outras, terminando com uma pancadinha amistosa com a antena.

Bates concluia que estes gestos de aparente racionalidade assente na relacionalidade seriam horas de relaxamento e limpeza indispensáveis a um desempenho eficaz das duras tarefas que usualmente tinham pela frente.

Num período sem precendentes da história da humanidade, em que o mundo está mais conectado do que nunca, e trabalha 24/24, um vírus obriga-nos a parar. O relaxamento e limpeza do corpo e da mente são aspectos essenciais para obter um bom desempenho a fazer seja o que for. Assim, em vez de encararmos este período de solitude como algo negativo (que certamente será para muitas pessoas), somos convidados a extrair o efeito positivo que um tempo de paragem pode ter sobre nós.

Esta é a oportunidade para desenvolver a nossa atitude mental curiosa. Por exemplo, ao terminar a leitura de ”No coração da Amazónia” de Walter Bates fiquei mais curioso sobre os ritmos e vida de seres tão pequenos como formigas. E, quem sabe, com elas aprender que relaxar e limpar a cabeça do que está a mais, cria o espaço para acolher a ideia de que posso sempre aprender algo de novo todos os dias.