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A meta de uma consciência plena é uma vida profunda. O tempo não sobra. O que fazemos parece não realizar-nos como esperávamos e, por vezes, podemos não ver o sentido daquilo que estamos a fazer. Daí que alguns argumentem, como Cal Newport, haver três regras simples para uma vida profunda:

  1. Fazer menos;
  2. Fazer melhor;
  3. Fazer com sentido.

Mas uma vida profunda não envolve apenas aquilo que fazemos, e também aquilo que somos e o que aprendemos a ser. Podemos sempre melhorar. Podemos sempre:

  • Ser mais;
  • Ser melhor;
  • Ser diferente.

Ser produtivo do ponto de vista de uma consciência plena, que resulta depois numa vida profunda e realizada, não envolve tanto resultados, quanto viver bem o momento presente, mesmo que se não produza qualquer resultado. E isso inclui as experiências concretas que fazemos em cada dia, todos os dias.

Ainda que o pensamento exerça alguma influência sobre o nosso estilo de vida, será a experiência concreta que produz, em última instância, os actos e as memórias que testemunham o quanto vivemos aquilo que pensamos. Assim, à síntese entre uma vida profunda e a experiência de vida concreta chamo de vida plena.

Como é possível orientarmo-nos para uma vida plena num momento em que estamos confinados nas nossas casa? E não importa se estamos sozinhos em casa, em vez de estarmos com alguém. Aliás, um amigo partilhou-me que sozinhos podemos falar com as paredes, as janelas e tudo o que existe em casa. O problema só existe se te responderem. Algo que me faz recordar Edith Bone.


A história de Edith Bone, médica de origem Húngara aprisionada durante sete anos numa cela solitária na Hungria por ter sido acusada de espionagem, é uma história de vida plena.

Quando Edith saiu da prisão, todos os jornalistas aguardavam-na à espera da imagem que pudessem traduzir em palavras e que exprimisse uma vida pautada pelo sofrimento mais atroz. Em vez disso, encontraram uma senhora descontraída e perfeitamente normal. Edith Bone conseguiu manter a sua sanidade mental em perfeito estado de saúde, apesar do isolamento extremo. Como?

Segundo o que descreve no seu livro Seven Years Solitary, durante aquele período desenvolveu vários exercícios mentais, incluindo revisões de conceitos matemáticos, outras línguas e respectivo vocabulário, reconstrução de enredos de todos os livros que tinha lido, uma lista de todas as personagens que se lembrava das peças de Shakespeare e fez, inclusivé, letras do pão endurecido pelo tempo e com estas compunha poesias.

Conta que durante algum tempo conseguiu remover o pedaço de uma unha e, afiando-a no chão, escavar um pequeno buraco ao longo de semanas para deixar a luz do exterior entrar na sua escura cela.

Com Edith Bone aprendemos que se mantivermos a nossa mente estimulada por pequenos e simples projectos, com objectivos específicos, conseguimos manter a nossa sanidade mental em tempo de isolamento, ou distanciamento social como o nosso.

O que os jornalistas viram quando saiu da prisão foi o rosto de uma pessoa com uma vida plena. Vida que está ao alcance de todos se mantivermos a mente activa com momentos de aprendizagem e projectos que nos proporcionem experiências concretas.