O Tetris inventado pelo russo Alexey Pajitnov é um dos jogos mais famosos e viciantes do mundo. Tanto que o próprio Pajitnov não conseguia terminá-lo por jogá-lo tempo demais. O que tem de especial esse jogo que o torna tão intemporalmente atractivo?

No início da década de 1930, e últimos anos da sua vida, um psicólogo russo Lev Vygotsky introduziu uma ideia que ajuda a explicar o que se passa com as pessoas motivadas a jogar Tetris. A ideia da zona de desenvolvimento proximal.

Qualquer um de nós entra nesta zona quando o que aprendemos está um pouco além das nossas capacidades. Isto é, existem as coisas que sabemos fazer por nós próprios, sem ajuda de ninguém; e do lado oposto, existem as coisas que não sabemos fazer de todo. As que conseguimos fazer com alguma dica de alguém encontram-se nesta zona de desenvolvimento proximal.

No caso do ensino, um professor pode levar os seus alunos a entrar nesta zona quando lhes pede para fazerem exercícios que estes não conseguiriam fazer ainda por si próprios. Daí as aulas, por exemplo, teórico-práticas que leccionamos na Universidade onde fazemos junto com eles exercícios sobre a matéria dadas nas aulas teóricas. Ou, como acontece no caso de um qualquer processo de aprendizagem, e temos um treinador ou mentor que puxa por nós. Ou ainda, com as novas tecnologias, o que aprendemos através de um webinar, curso on-line ou vídeo partilhado no YouTube ou Vimeo.

Quando queremos aprender coisas novas por nós próprios, o que este conceito de Vygotsky nos indica, é o caminho para tornarmos o processo de aprendizagem motivante. Isto é, deveríamos procurar aplicar o que queremos aprender a algo que está um pouco além das nossas capacidades. Para mim isso significa arriscar e acabamos por desenvolver uma capacidade muito importante na aprendizagem, a resiliência.

Assim, se quero aprender um pouco mais de matemática, deveria experimentar ler um livro com um grau de complexidade maior. Se quero aprender a tocar guitarra, deveria tentar tocar uma música ligeiramente mais difícil do que estou habituado. Se quero aprender a pintar, deveria tentar misturar um pouco mais as cores do que estou habituado.

Entrar na zona de desenvolvimento proximal implica sair da zona de conforto em que nos encontramos quando nos dedicamos somente ao que sabemos fazer. O resultado não é somente aprender de um modo mais eficiente, mas – como num jogo de Tetris – tirar, também, maior gozo de todo o processo de aprendizagem.