Os grandes avanços na história humana dependeram da nossa capacidade de estar atentos. A atenção em relação ao perigo no período pré-histórico. A atenção que uma actividade criativa exigia. A atenção na escuta de histórias como forma de transmissão de conhecimento pelas gerações.

Quando pretendemos realizar bem e rápido uma tarefa importante, dirigimos a nossa máxima atenção para essa. Quando nos partilham algo sério, ou nos explicam algo importante, focamos a nossa máxima atenção na pessoa que fala.

Mas não sei se estávamos preparados para o que aconteceu com a revolução dos Smartphones e Tablets.

Recuperar atenção

Distraímo-nos só por olhar

Cary Stohart, Ainsley Mitchum e Courtney Yehnert, investigadores da Universidade Estatal da Florida, realizaram um estudo que demonstrou como as simples notificações que recebemos nos telemóveis são suficientemente disruptivas da nossa atenção, mesmo quando uma pessoa não interage directamente com o dispositivo. Pelo contrário, surpreendentemente verificaram que o efeito de uma distracção por mera observação é tão significativa quanto a distracção quando se usa activamente o telemóvel.

Basta passear um pouco pelas ruas de uma cidade, observar os cafés, e o grau de interacção que as pessoas têm com os seus telemóveis atingiu um nível de envolvimento extremamente elevado. A nossa própria experiência revela-o. Pensa numa situação de espera. Alguém pega no smartphone e começa a usá-lo. Não sentes vontade em fazê-lo também?

É cada vez mais frequente ver as pessoas sentadas num café ou restaurante e quase todas têm o seu telemóvel em cima da mesa. No outro dia, assisti a pais que lanchavam enquanto o bebé sentado na cadeirinha os observava “atentamente“, mas quanto sorri para o bebé a sua atenção focou-se antes em mim porque interagia com alguém. A atenção é a qualidade humana que permite viver com intensidade a realidade à nossa volta.

Recuperar o controlo da atenção

Nos nossos trabalhos (excepto quando o telemóvel é o instrumento de trabalho), nas aulas, reuniões, conferências ou seminários, enquanto estudamos, lemos ou escrevemos, criamos, a nossa atenção é a qualidade que dá valor ao tempo que dispendemos naquilo que temos, ou precisamos de fazer.

Isso significa que se os dispositivos electrónicos controlam a nossa atenção com a sua suposta funcionalidade de nos manter a par de tudo com notificações, ou capacidade de absorver grande parte da nossa atenção através de conteúdo atractivo.

Recuperar a potência da nossa atenção passa por aprender ao longo do tempo a saber pôr de lado o telemóvel, desligado ou em modo de voo. Um exercício simples de vontade com repercussões estrondosas na nossa vida. Trata-se de assumir de novo a gestão da nossa atenção, um bem humano tão precioso quanto o tempo.

Por muito que nos custe repensar estes aspectos de gratificação instantânea na nossa vida, penso que vale a pena. Reconheço-me vítima deste desafio cultural e por esse motivo tenho lido alguma investigação sobre o assunto. Investigação que é recente porque o fenómeno ”Smartphone” tem apenas pouco mais do que uma década de existência, mas as repercussões culturais desta novidade tecnológica são tão evolutivas quanto “involutivas”, pois consomem com irrelevância a atenção que nos permitiu evoluir.

Se reconheceres cada vez mais e melhor o valor que a tua atenção pode ter na tua vida, seguramente que lutaras pela sua gestão e máxima potencialidade. Sê protagonista neste movimento de recuperação da nossa atenção. E não vás somente por aquilo que lês aqui, em notícias ou livros. Faz a experiência e vê por ti mesmo os resultados. Começa por coisas simples e chegarás por ti mesmo às grandes conclusões.