Uma colega da minha esposa ficou perplexa em relação à perspectiva de passar um aluno em 17. Como professores universitários podemos ser tentados a pensar que o problema é nosso, e não digo que não seja, mas o modo como os estudantes lidam com a aprendizagem é preocupante. Talvez seja preciso uma nova disciplina.

nova disciplina

As empresas actualmente começam a avaliar o valor económico de uma pessoa, com base na sua capacidade de aprender, para a poder distinguir dos vários candidatos. O modelo de empresa mais actual e a desenvolver no futuro é a que premeia o espírito crítico e de iniciativa, apesar de haver muitas coisas que se sabem antecipadamente como fazer.

 

Aprendizagem em longo da vida

Se há algo que serve para o sucesso que é possível atingir ao longo da vida é a capacidade de aprender. As pessoas que a desenvolvem conseguem aprender qualquer coisa, cada vez mais rápido e melhor. Aliás, é essa a base do Quociente de Aprendizagem que servirá, cada vez mais, de parâmetro para avaliar essa capacidade.

Mas o panorama não é o que desejaríamos. Há muitos estudantes que resistem a mudar os seus hábitos, acreditando que tudo se pode fazer à última da hora. Acreditam que as aulas não são necessárias e que basta pedir os apontamentos a alguém, ou estudar de uma enfiada só toda a matéria com o livro de texto recomendado.

A experiência mostra, vezes sem conta, que não dá.

Um exame não é uma demonstração de sorte, mas de articulação de conhecimentos. Gerir as emoções num exame prepara-nos também para as situações de ansiedade que ocorrem na vida profissional. E o que questiono é se a Universidade não deveria ter um papel mais activo na preparação dos estudantes para uma vida académica mais produtiva e sentir gozo em tê-la.

 

Qual a nova disciplina?

Houve um semestre em que formulei a hipótese de que o desempenho académico dependia mais daquilo que se passava fora da sala de aula do que dentro. Ao fazer algumas recomendações aos alunos sobre gestão de tempo, de saúde, maior controlo sobre a vida digital, etc., notei que não era testemunho. Como posso recomendar o que não pratico? Não dá.

Ao experimentar alterar as minhas rotinas matinais, planear o dia, cumprir com horários de sono e aplicar algumas técnicas de gestão de tempo na realização de tarefas, percebi como a minha própria produtividade estava em baixo e precisava de uma reviravolta.

Nesse sentido, questiono se não deveria haver uma disciplina que merecia ser pensada e lecionada no primeiro ano da universidade:

PRODUTIVIDADE ACADÉMICA E TÉCNICAS DE ESTUDO

Uma disciplina que falasse de métodos de estudo, gestão do tempo de estudo, o modo como funciona o nosso cérebro, o impacte da gestão da nossa atenção no desempenho, o modo justo de lidar com as distracções em tempo de aulas, técnicas de tirar apontamentos para capturar de novo a nossa atenção, enfim… matéria para essa disciplina “obrigatória” não faltaria.

Como ser avaliado?

Seminários.

Cada aluno deveria fazer uma apresentação que tivesse na base uma experiência de vida académica concreta. Por exemplo, sobre a capacidade de concentração poderia explorar o modo como a pretende desenvolver, partilhando experiências que tenha feito com base em bibliografia, ou algum estudo.

Ao criar hábitos diários, e desenvolver as metodologias que lhe permitem controlar melhor a sua produtividade académica, e a capacidade/gosto em aprender, desde o primeiro ano que um aluno começaria a lidar com o choque académico a que é sujeito. Isto é, os professores deixam de ser os responsáveis pela aprendizagem, passando a ser o próprio.


Questão: acham que esta disciplina faria sentido?