Quando alguém lê a palavra educação pode senti-la como uma realidade longínqua, ou fora do seu contexto de vida, a não ser que esteja nela envolvido, directamente, como estudante, pai ou professor. Porém, creio que a educação faz parte da nossa identidade e vai muito para além do âmbito escolar. É um modo de crescer e amadurecer na vida quotidiana, sob um aspecto particular. Qual?

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A ordem do universo é razão suficiente de valer a pena compreender seja o que for neste mundo. Cada um de nós apercebe-se desta ordem na sua vida, apesar da desordem que existe também, por experimentar na pele algo que podemos chamar de narrativa.

O objectivo de qualquer narrativa é o de dar um significado ao mundo, e a medida daquilo que é verdadeiro ou falso naquilo que é narrado está nas consequências que produz na nossa vida. Por isso, as narrativas dão-nos um sentido de identidade pessoal, de vida em comunidade, são uma base para as decisões que tomamos, ou, ainda, apontam caminhos para acolher as realidades que temos mais dificuldade em compreender.

Sem as narrativas, a vida não teria sentido e gera-se um efeito em cadeia. Vejamos. A ausência de sentido para a vida leva-nos a pensar que a aprendizagem não tem propósito ou valor. E sem um propósito para a aprendizagem, as sociedades onde estamos inseridos tornam-se casas de detenção em vez de atenção. E, por esse motivo, a educação no meio em que vivemos vai para além das escolas, e revela-se como algo vital para construir uma narrativa que nos identifica.

O físico Niels Bohr dizia que «o oposto de uma afirmação correcta é uma afirmação incorrecta, mas o oposto a uma verdade profunda será outra verdade profunda.» Creio que este pensamento tem muito a ver com a ligação entre educação e vida. Pois, uma vida educada é uma vida profunda feita de paradoxos, dúvidas, mas, sobretudo, de uma sensibilidade que se treina: a curiosidade.

A razão pela qual muitas vezes nos sentimos desmoralizados com o que fazemos, ou aprendemos, aborrecidos mais do que gostaríamos, e a ansiar por momentos de distracção, não é a de que as actividades que nos educam na vida sejam desinteressantes, mas a falta de uma narrativa que una o útil ao desejável. Penso que trabalhar a curiosidade como amadurecimento da nossa educação seja uma vertente narrativa que pode produzir em nós o efeito de unir a utilidade ao desejo.

Quem vive na mesmidade de estar sempre a fazer a mesma coisa, ainda que lhe pareça divertida, sem se dar conta, quebra a sua vitalidade e criatividade. A curiosidade é algo que nos transforma por dentro e, depois, manifesta-se exteriormente em tudo o que fazemos.

Porém, muitas vezes, o resultado das nossas incursões curiosas pelo quotidiano são a falha e a imperfeição. E podemos esmorecer pensando que — como diz o ditado — a curiosidade matou o gato. Um ditado que provém da experiência mental de Schrödinger. Uma caixa com um gato possui uma armadilha accionada pelo decaimento de um átomo que o pode matar. A probabilidade desse decaimento acontecer é igual à de não acontecer. Logo, o gato está vivo ou morto? Bom, em mecânica quântica é o acto de observar que gera os possíveis decaimentos e, daí que a nossa curiosidade possa matar o gato. A moral da história é a de que não é a dúvida que mata, mas, sim, a ânsia das certezas.

Educarmo-nos para a curiosidade mantém fresca a abertura que a dúvida suscita em nós, impelindo-nos na procura das realidades profundas que nos tiram da superficialidade de ideias vãs e sem sentido.