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Quando pensamos na palavra “aprender” associamos, normalmente, a um ambiente escolar, académico, mas será bom relembrar que a maior parte daquilo que aprendemos ocorre fora de uma sala de aula.

É desconfortável pensar na aprendizagem porque essa implica o esforço experimentado diante da nossa incompetência até que desenvolvamos a maestria daquilo que aprendemos. Mas será, precisamente aí, no modo como inserimos a aprendizagem na nossa vida quotidiana que se abre um horizonte de identidade.

Se alguém se afirma como “engenheiro,” significa ter aprendido as bases e obtido um certificado, que combinam com o seu modo de vida e refere aos outros como algo que o identifica. E tudo isto acontece no seio da comunidade onde estamos. Os padrões e práticas, o apoio recíproco entre os seus membros, e os papéis que representam para a sociedade, expressam como as pessoas como nós, fazem o mesmo que nós fazemos.

Se és um pasteleiro em Lisboa, fazes as coisas de uma certa maneira. Os ingredientes, desde a farinha, aos ovos, ao açúcar, são os mesmos que um pasteleiro no Japão, mas os bolos são diferentes porque as comunidades são diferentes.

Até o modo como pensamos a educação formal, a acreditação de um curso e o contributo que a nossa profissão pode dar à sociedade, é impulsionado pela prática comunitária da qual fazemos parte. Em Portugal é comum aspirar que um filho possa tirar um curso universitário, e ainda que tenha dificuldade, ou muda de curso, ou vai chumbando até passar. Nos Estados Unidos, quando alguém não se adapta ao meio académico, sai, simplesmente, e procura desenvolver outras competências onde se sinta mais realizado. É um exemplo de diferenças na prática comunitária.

As comunidades com identidade proveniente do modo de aprender surgem, essencialmente, como um resultado dos ambientes onde nascem. Pode ser por uma questão geográfica, de parentesco, onde a identidade surge antes da entrada em meio escolar. Mas isso está a mudar.

A prática comunitária deu origem às comunidades de prática, transformadas e amplificadas pelo ambiente persistente e permeável da net que nos rodeia e constrói, também, comunidades. Isso altera, inevitavelmente, aquilo que nos identifica.

Enquanto as comunidades convencionais determinam as escolhas que fazemos na aprendizagem, as comunidades de prática dão-nos a oportunidade de sermos intencionais em relação à identidade. Por exemplo, considero-me parte da comunidade de prática daqueles que fazem as páginas matinais. Todos os dias, aprender a expressar com palavras e sem filtros os pensamentos que emergem na cabeça, faz parte daquilo que identifica as comunidades da escrita criativa como a das páginas matinais.

O desafio está no risco de vivermos isolados na ilha daquilo que sabemos fazer. Quem ousa falhar, descobre um modo novo de acolher o estilo de vida de quem está sempre a aprender, e tem a mente suficientemente aberta para estar disposto a fazer parte de novas comunidades de prática. Quem sabe se não seremos um dia criadores de alguma. Um exemplo.

Charlie Todd chegou à cidade de Nova Iorque com o sonho de fazer carreira como comediante. Em vez de procurar palcos na cidade, descobriu que a própria cidade poderia ser o seu palco ao gerar situações improvisadas com alguns grupos de pessoas, fundando a iniciativa Improv Everywhere. Basta olhar para um edifício com várias lojas, por diversos andares, e ver uma rapariga a dançar à janela numa das lojas, pensando — «o que preciso é de por alguém a dançar em cada janela.»

O único limite à criatividade e capacidade de aprender é o que impões a ti próprio.