Num recente artigo da Harvard Business Review (HBR), Chen Zhang, Christopher Myers e David Mayer sugerem uma terceira alternativa para lidar com o stress no trabalho que não seja esforçar-se até que o trabalho “stressante” fique completo, ou relaxar até recuperar as energias necessárias para voltar ao trabalho. Essa alternativa consiste em aprender algo de novo.

Pode ser aprender uma nova capacidade, informação ou desafio intelectual. Dizem estes investigadores que a aprendizagem abafa o stress e ajuda os trabalhadores a adquirir recursos valiosos e psicológicos para o superar quando a carga de trabalho for elevada. Mas há um problema. E quando o stress está associado ao período de estudos universitários onde o objectivo consiste, precisamente, em aprender?

Muitos estudantes experimentam este período importante da sua vida como “stressante.” Por isso, será que este estudo da HBR não se aplica? Há estudantes que partilham ganhar uma nova perspectiva sobre os estudos depois de terem feito um estágio numa empresa, ou seja, depois de terem trabalhado. Quer isso dizer que um estudante deveria combater o stress da aprendizagem com trabalho?

Talvez não. Para o demonstrar estão aqueles que estudam e trabalham. Esses reconhecem o esforço que é necessário empreender nos estudos depois de um dia de trabalho. Porém, sentem stress porque o estudo não avança, e isso significa que a aprendizagem pode gerar mais stress do que seria suposto, de acordo com o estudo acima. A questão talvez seja mais profunda do que isso.

É muito normal dissociar as palavras estudo e aprender, mas o facto é que são a mesma coisa. Aliás, o artigo não fala em estudo ou estudar, mas em aprender – “Aprender coisas novas.”, “Focar na aprendizagem.”

Penso que uma grande parte do stress durante a vida académica esteja nesta dissociação e de alguma perda de sentido e significado para o “porquê” de dedicarmos uma boa parte da nossa vida a aprender (ou estudar).

A aprendizagem no estudo da HBR associa expressões como,

  • fazer coisas que expandam os nossos horizontes;
  • procurar desafios intelectuais;
  • aprender algo de novo;

ao efeito positivo da aprendizagem sobre o stress.

Se um estudante não encara a aprendizagem deste modo, mas como um trabalho a cumprir (“porque sou obrigado a isso, caso contrário, não terei um bom emprego”), corre o risco de fazer da aprendizagem um trabalho.

Há quem argumente (eu inclusivé) que um estudante deveria abordar a vida académica como o seu primeiro emprego, mas depois deste estudo questiono este argumento. Talvez seja esse o problema. Em vez de explorar este período único da sua vida como uma oportunidade sem igual a desenvolver a capacidade de aprender, o stress acaba por ser expressão da pressão e não do gosto por aprender.

É necessário algo de diferente e surgiu-me uma ideia. E se cada um aprendesse mais sobre si mesmo? Podemos sempre desenvolver as capacidades de manter a atenção, despertar a curiosidade, ser resiliente quando se falha, humilde quando recebemos críticas, e vulneráveis de cada vez que expomos o que sabemos (ou não sabemos).

Há uma mudança no interior que não é fácil concretizar, mas está ao alcance de cada um. Basta começar por dois passos.

Passo #1 – Hábitos Diários

Há quem tenha hábitos diários e não se dê conta disso. Há quem se dê conta disso, mas não sente que sejam hábitos que promovam a aprendizagem. Mas o mais normal talvez seja não ter hábitos, nem estar ciente da potência que exercem sobre a nossa vida e desempenho. É necessário mudar o comportamento para criar esses hábitos. Algo que está muito bem explicado no livro de James Clear, “Atomic Habits.”

Passo #2 – Planear cada dia

Um segundo passo seria organizar ao detalhe o dia seguinte no dia anterior. Assim, tornar muito mais fácil perceber no final do dia se fiz o que pretendia, e identificar o que alterou os meus planos. Só sabendo o que afecta o nosso dia podemos fazer alguma coisa para melhorar o modo como organizamos e usamos o nosso tempo. Quem não sabe é como quem não vê.