Foto de Joshua Earle em Unsplash

No dia 1 de janeiro de 2021 saiu na Netflix um documentário (o segundo) escrito pelos Minimalistas intitulado Less is Now — Menos é Agora — com uma mensagem simples (e minimalista): és mais feliz com menos. Pois, isso implica usar algum do tempo que temos a pensar naquilo que, realmente, tem valor na nossa vida. Depois, em Março deste novo ano, sairá um novo livro de Cal Newport, depois do seu Minimalismo Digital que se intitula A World Without Email — Um Mundo Sem Email — onde procura re-imaginar o trabalho na Era da Sobrecarga de Informação. Quando penso naquilo que posso esperar em 2021, com base nestes dois exemplos, vem-me à mente duas palavras: essencial e comunicar.

Ninguém nota o céu azul quando existem algumas núvens. Ou no branco de uma tela se nela estiver pintado um ponto. Aquilo que enquadra o que realmente tem valor na nossa vida apreendedora é o seu grau de profundidade. E o último ano de pandemia levou-nos a pensar no quanto é possível preencher a nossa atenção quando nos sentimos aborrecidos ou estagnados, com o toque de um dedo. A distância a adquirir mais uma coisa ou partilhar mais um aspecto da nossa vida, é a de um dedo. Um dia, ou dois dias depois, é o tempo suficiente para o que queremos, e compramos, seja entregue à nossa porta, ou descarregado no nosso dispositivo (ou vários). Ou não importa quão trivial seja o que comunicamos, desde que seja apreciado pelos outros com um “Gosto”. Mas tudo isto que enche a vida traz-nos profundidade?

Eu acredito que estamos sempre a aprender e que 2021 será um grande ano de apreendedorismo. Mas o que me deixa a pensar é o quanto aprendemos, ou não, com os nossos erros. As nossas casas podem estar atafulhadas de coisas, mas quantas são realmente funcionais e úteis numa base regular? A tendência de pensamento é a de que “um dia” poderemos precisar, mas no documentário Less is Now conhecemos a experiência de Ryan Nicodemus que aderiu de imediato ao Minimalismo colocando tudo o que tinha em casa dentro de caixas e retirar apenas aquilo que precisava, no momento em que precisava. Após 30 dias, 80% daquilo que possuia estava ainda dentro de caixas. O desatafulhar da sua casa levou-o a um desatafulhar da sua mente, e a uma vida mais simples e profunda, centrada no que é essencial.

Quando penso nas vidas que perdermos de familiares, amigos, ou até desconhecidos por causa da pandemia, sinto a sua fragilidade presa, literalmente, por um fio. O fio da contingência, pois, não sabemos o momento em que tudo o que acumulámos ao longo da vida, de nada serve por não levarmos connosco quando deixamos de viver. Logo, para quê tanto acumular? Nesse sentido, creio que em 2021 seria relevante encontrar, de novo, o caminho que nos volta para o que é essencial. E um livro que recomendo a esse respeito é o ”Essencialismo” de Greg McKeown.

«A sabedoria da vida consiste em eliminar o que não é essencial.» (Lin Yutang, inventor)

O essencialismo está para os valores, como o minimalismo está para as coisas. No minimalismo, a mudança de vida acontece por via de ter menos. No essencialismo, a mudança de vida acontece por via de fazer menos. Não no sentido laxista do termo, mas por se procurar fazer melhor, o que realmente traz valor, ou seja, menos mas melhor. Fazer menos coisas, mas as coisas certas. Assim, será a procura dos valores que melhoram a nossa vida que lhe dão essencialidade. Por último, esse melhor traduz-se, também, em maior profundidade.

Por outro lado, associado ainda a este fazer menos, mas as coisas certas, penso no tema abordado por Newport: o email. Tenho muitos colegas e amigos que partilham os seus sentimentos em relação à quantidade de emails que têm para responder como uma experiência dura que não lhes traz felicidade e realização ao final do dia. Ninguém comunica sem comunicar-se. Pelo que, o espaço excessivo que o email pode ocupar do tempo que usamos na comunicação pareça extrair mais de nós do que seria suposto. Nesse sentido, creio que a comunicação como metáfora evolutiva que nos ajuda a fazer escolhas em 2021, seja algo a reflectir ao longo do ano.

Depois de um período de Natal em que recebemos coisas, ou de final de ano em que nos afogámos em mensagens infindáveis a repetir o desejo de um Feliz Ano Novo, pensar em essencial e comunicação, pode não ser o mais evidente ou desejável. Mas chegar ao fim de uma corrida depende da sabedoria e grau de preparação do arranque.

Em 2021, espero que descubramos o que é essencial e vale a pena comunicar, para que a nossa vida tenha o arranque necessário à realização plena que desejo a todos.