Aos meus alunos de Programação repito sistematicamente que a melhor forma de conseguir ter sucesso na disciplina é praticar, praticar, praticar. Quando aprendi a fazer o cubo mágico, percebi que bastava identificar certos padrões nas faces e fazer a sequência certa. Pratiquei até conseguir resolver o cubo sem ter que olhar para o site, onde estavam identificados esses padrões e sequências. O segredo é mesmo praticar, praticar, praticar.

prática deliberada

A prática deliberada de qualquer actividade é a forma de desenvolver e consolidar qualquer capacidade. Sobretudo, isso é importante para as capacidades que podem influenciar positivamente a nossa carreira profissional, ou mesmo o percurso académico.

 

Uma das Mentes do Futuro… a disciplinada

Howard Gardner, Professor na área da psicologia em Harvard escreveu um livro que li em tempos que fala das 5 mentes para o futuro. Uma dessas é a mente disciplina. Ele define a mente disciplina como a que trabalha com consistência ao longo do tempo para melhorar uma capacidade e conhecimento numa determinada área. E a ideia dessa ser uma das mentes do futuro é por ser um dos tipos de mente que uma pessoa precisará se quiser triunfar nos tempo que se avizinha que revolução tecnológica, social e humana.

Não há dúvida que desenvolver uma mente disciplinada para garantir um futuro profissional promissor, e que realiza uma pessoa, exige aprender a exercer uma prática deliberada. Porém, todos – uns mais do que outros – temos alguma aversão à prática deliberada, sobretudo quando essa exige um esforço cognitivo adicional, ou até físico.

No pain, no gain.

Mas a razão pela qual se opta pela procrastinação tem mais a ver com um “não é assim tão importante…” De facto, não sei bem por que razão, mas quem procrastina deve ter a noção de que tudo se consegue com a pressão de última hora. E que basta querer muito para conseguir o que quero, quando quero e como quero. Infelizmente não funciona assim.

 

Como construir um futuro de sucesso hoje

Toda a capacidade que realmente me leva a construir um percurso académico e profissional que me realize exige uma mente disciplinada, atenta e isso consegue-se com uma prática deliberada de capacidades raras e úteis que aumentam o que Cal Newport designa por capital de carreira. E o período privilegiado para desenvolver esta prática é o universitário.

Quando vejo um aluno um pouco desanimado com uma prova questiono “como correu?”, e a grande maioria afirma que não teve tempo para estudar, ou não estudou o suficiente. Ou seja, a resposta vai 99% das vezes ao encontro da falta de uma prática deliberada. Eu penso que a razão possa ser uma falta de experiência dos efeitos positivos dessa prática. Quando experimentamos algo bom e transformativo, raramente deixamos de experimentar. O que custa é o investimento inicial de levar a sério o desenvolvimento de uma capacidade.

Independentemente da disciplina, a prática deliberada de qualquer matéria desenvolve o estilo próprio de cada um na abordagem de novos desafios. E esse estilo é fundamental no processo de aprendizagem. A questão é como encontrar o impulso inicial.

 

O segredo está na prática deliberada

A minha sugestão é escrever à mão numa agenda o que se pretende fazer. Está demonstrado [1] que escrever os nossos objectivos aumenta em pouco mais do que 40% a probabilidade de os concretizar.

Depois, o acto de escrever funciona como auto-compromisso e ajuda-te a perceber cada vez melhor o que te impediu de atingir aquilo a que te propuseste. Podem ter sido solicitações dos outros, procura de alívio para o stress em coisas pouco importantes ou urgentes, ou mesmo a sub-valorização do tempo de algumas tarefas face ao que inicialmente previas. Não há problema. Tudo serve para ultrapassar o “macaco da procrastinação” [2] e acabas por conhecer-te melhor em relação ao que afecta o teu desempenho.

Tudo depende de ti. Experimenta.


Questão: o que tens a perder?


Fontes

[1] Estudo de Gail Matthews mostra como escrever os objectivos aumenta a probabilidade de os concretizar: LINK

[2] TED Talk de Tim Urban que inclui esta metáfora do macaco da procrastinação: LINK